quarta-feira, novembro 18

Eu pergunto


... porque raio as formigas não se afogam nas gotas de chuva?

quinta-feira, outubro 15

Perdidos

foto de Luis L Henriques


Perdida na multidão, olho as gentes que passam, rostos anónimos que contemplo, apressados, passos incertos no futuro, sem rumo os que olham o chão do caminho, vazios os olhares, alheios aos gritos que ecoam no cinzento ali ao lado. Na maré humana que vagueia pela cidade quantos são felizes? Não vejo prazer nos olhares, nos gestos, nos passos.

segunda-feira, setembro 28

...

Foto Olhares


Voltar
a percorrer o inverso dos caminhos
reencontrar a palavra sem endereço
e contra o peito insuficiente
oferecer a lágrima que não nos defende
Recolher as marcas da minha lonjura
os sinais passageiros da loucura
e adormecer pela derradeira vez
nos lençois em que anoitecemos
Reencontrar secretamente
o fugaz encanto
o perfeito momento
em que a carne tocou a fonte
e o sangue
fora de mim
procurou o seu coração primeiro

Mia Couto, Raiz de Orvalho e Outros Poemas

sexta-feira, setembro 25

Não posso

Maiorca 2008

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.


António Ramos Rosa

sexta-feira, setembro 11

Percursos

foto de A Coutinho


As pedras da calçada estão gastas dos meus passos, curtos em espaço, largos em sonhos. Sonhos que povoam a minha vida neste percurso sentido que faço dia a dia, encontrando-me nos outros e lendo o meu interior em busca do que de melhor existe em mim.

quarta-feira, julho 22

Desabraçar


Menorca 2007

Vinha de longe, há muito que sonhava voltar aquele lugar, queria um momento que já havia sentido.
Tinha partido por não conseguir estar, tinha procurado bem longe algo ou alguém que lhe fizesse esquecer aquele lugar, sempre sonhou com momentos que nunca sentiu, tinha partido nessa busca credível, haveria de existir nalgum lugar, queria um momento em que de tão sentido que era, não conseguisse desabraçar!


segunda-feira, julho 13

Tábuas partidas


Nesta estrada que percorro, por cada tábua que se parte e por outra que range, busco forças no convés onde me abrigo e volto a ela de martelo para atravessar a ponte sem olhar para trás.

domingo, julho 5

quarta-feira, junho 24

Esse grande escultor

Alinhar ao centro
foto de Franxxisco

“Assim, tu partes. Na minha idade já não se dá importância a uma separação, mesmo que definitiva. Eu bem sei que os seres que amamos e que nos amam mais se vão separando insensivelmente de nós a cada momento que passa. É também deste modo que se vão separando de si próprios. Estás sentado sobre essa pedra e julgas-te ainda aí, mas o teu ser, voltado para o futuro, não adere mais ao que foi a tua vida, e a tua ausência já começou. É certo que compreendo que tudo isto é ilusão, como o resto, e que o futuro não existe. Os homens que inventaram o tempo, inventaram por contraste a eternidade, mas a negação do tempo é tão vã como ele próprio. Não há passado nem futuro mas apenas uma sucessão de presentes sucessivos, um caminho perpetuamente destruído e continuado onde todos vamos avançando. Estás sentado, Gherardo, mas os teus pés estão assentes no solo com a inquietação de quem experimenta o caminho. Estás vestido com trajes do nosso século, que hão-de parecer feios ou simplesmente estranhos quando o século tiver passado, pois as vestes não são mais que a caricatura do corpo. Vejo-te nu. Tenho o dom de ver através das roupas o irradiar do corpo, que é como os santos vêem as almas, segundo penso. É um suplício quando são feios, mas é um outro suplício quando são belos, dessa beleza frágil que a vida e o tempo atacam por todos os lados e acabarão por tomar-te, mas neste momento és dono dela e tua será na abóbada da igreja onde pintei a tua imagem. Mesmo que um dia o teu espelho te não mostre mais que um retrato deformado onde não ouses reconhecer-te, existirá sempre noutro sítio o reflexo imóvel de ti. E desse modo imobilizarei a tua alma também.

Tu já não me amas. Se consentes em ouvir-me durante uma hora é porque somos sempre indulgentes com aqueles que vamos deixar. Ligaste-me e agora desligas-me. Não te censuro, Gherardo. O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo. Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces, ao encontro de quem vais e que porventura te esperam: aquele que eles vão conhecer será diferente daquele que eu julguei conhecer e creio amar. Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e, sendo a arte a única forma de posse verdadeira, o que importa é recriar um ser e não prendê-lo. Gherardo, não te enganes sobre as minhas lágrimas: vale mais que os que amamos partam enquanto ainda conseguimos chorá-los. Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe, enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela. Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo, assim tu também não és mais para mim do que invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver. Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.

Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos.”

Marguerite Yourcenar - O TEMPO, esse grande escultor

quinta-feira, junho 18

Em todas as ruas te encontro

foto de Pedro Malheiros


Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.


Mário de Césariny

domingo, junho 7

O Catavento



O catavento desnorteado não me diz a direcção do vento, nem eu sei mesmo se isso me interessa, sinto-o e vejo o remoinho à minha volta!
Sigo a viagem de uma sardanita, parede abaixo, parede acima tenta descobrir que movimento desusado se passa no seu espaço natural...

terça-feira, junho 2

Cidade

foto de Gonçalo Pina


Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes e não vejo
Nem o crescer do mar nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pelas sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello Breyner

quarta-feira, maio 27

Sentinela da Madrugada

foto de Alexandre P.


Um sorriso sentir,
Na madrugada de fogo
As tuas mãos…
Archote aos soluços
A ferida que não sara,
O homem que não consegue sair,
O peito em fogo,
E a necessidade de sorrir,
Os teus olhos,
Vigias de luar
Queimam de tanto chorar,
Boca gruta,
Que não grita
Rouco de tanto querer falar
A ternura
Que quer virar raiva,
O amor doçura
Com vontade de quebrar,
O ponto mais alto
O cume destronado do seu lugar!
Vi-te, ó SENTINELA DA MADRUGADA
De joelhos,
Numa escada a rezar,
Eram tão loucas
As orações que dizias,
Era a certeza
O culto à verdade mais cheia,
Que aos poucos
Começaste a elevar-te
Subiste
Vigia da madrugada,
Sem querer
Não pudeste reter
O ídolo do teu altar
Foram tantas as orações
Nessa escada de mármore
Decorada de luar,
Que tu,
Sentinela da madrugada
Um dia
Não pudeste mais
Ver a madrugada chegar!

quinta-feira, maio 7

segunda-feira, maio 4

segunda-feira, abril 27

Gaivota




Se uma gaivota viesse
Trazer-me o céu de Lisboa
No desenho que fizesse

Nesse céu onde o olhar
É uma asa que não voa
Esmorece e cai no mar

Que perfeito coração
No meu peito bateria
Meu amor na tua mão
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração

Se um português marinheiro
Dos sete mares andarilho
Fosse quem sabe o primeiro

A contar-me o que inventasse
Se um olhar de novo brilho
Ao meu olhar se enlaçasse

Que perfeito coração
No meu peito bateria
Meu amor na tua mão
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração

Se ao dizer adeus à vida
As aves todas do céu
Me dessem na despedida

O teu olhar derradeiro
Esse olhar que era só teu
Amor que foste o primeiro

Que perfeito coração
Morreria no meu peito
Meu amor na tua mão
Nessa mão onde perfeito
Bateu o meu coração

Meu amor
Na tua mão
Nessa mão onde perfeito
Bateu o meu coração

Poema : Alexandre O'Neil
Música : Alain Oulman

domingo, abril 19

Gota d´água





Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.



António Gedeão

terça-feira, abril 14

Calados e Atentos

by Marina1 - DevianArt


"Se a Natureza nos deu 2 olhos, 2 ouvidos e uma só boca, é para vermos e ouvirmos o dobro do que falamos."

Zenão de Eleia

sexta-feira, abril 10

E ao anoitecer



E ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia


Al Berto

quarta-feira, abril 8

Choose Love



I choose to hide
But I look for you all the time
I choose to run
But I'm begging for you to come
I wanna break
But I know that you can take
I stay a while
To be sure that you're by my side
Oh, oh

Don't look at me, just look inside
'Cause I can go through
Tell me, are you goin' tired
Of what I don't do
I wanna see, I wanna fight
'Cause I don't feel scared
Honey, if you care

I choose to find
Things that you left behind
I choose to stare
But I can take you anywhere
I wanna stay
But my soul leaves you anyway
Can close the door
And love, could you give me more

Don't look at me, just look inside
'Cause I can go through
Tell me, are you goin' tired
Of what I don't do
I wanna see, I wanna fight
'Cause I don't feel scared
Honey, if you care

Choose love, choose love, love
Choose love, choose love, oh

Don't wanna hear, I wanna fight
'Cause this time I won't be wrong
And I can waste this precious time
Asking where do I belong
So let me know your love is real
'Cause this time you won't control
Tell me please, what do you feel
Do I have to save your soul

quinta-feira, abril 2

Provérbio




"Fear less, hope more;
Whine less, breathe more;
Talk less, say more;
Hate less, love more;
And all good things are yours."

-Provérbio Sueco-

quarta-feira, abril 1

sábado, março 28

Presença


O Sol desaparece por entre o casario branco e os ciprestes que apontam para o ar. O mar confunde-se com o céu que contemplamos. Atrás de nós a casa enorme, agora vazia, mas repleta de recordações.


Os amigos têm esse dom ainda que ausentes estão em nós presentes.

terça-feira, março 10

Há palavras que nos beijam


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.



Alexandre O'Neill


quinta-feira, fevereiro 26

Voltar





Manhã Cinzenta
Faz-me chorar
A chuva lembra
O teu olhar
As folhas mortas
Caem no chão
A dor aperta
O coração
Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta p'ro meu peito
Daqui não saias mais

Perdi-me amor
Para te encontrar
Na solidão
Do teu olhar
No teu olhar
Se perde o meu
Também o mar
Se perde no céu
Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta p'ro meu peito
Daqui não saias mais

domingo, fevereiro 1

sábado, janeiro 24

terça-feira, janeiro 20

Paisagem


Autor : Martin Etiene

Rouen, a caminho da Normandia

quinta-feira, janeiro 15

Apetece-me

Gravura de Eduardo Salavisa

sábado, janeiro 3

Canção do Mar





Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo